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Os setores que mais demoraram para depositar o dinheiro neste ano, chegando a mais de 100 dias, foram consumo não cíclico, saneamento e energia. As empresas de consumo não cíclico em geral não são boas distribuidoras de dividendos, porque são muito endividadas e as suas margens de lucro são baixas. Já as companhias de saneamento e energia são boas distribuidoras de dividendos, com previsibilidade de receita e necessidade menor de investimentos.
Distribuição de dividendos e juros sobre capital próprio
O total pago aos acionistas caiu neste ano em comparação ao ano passado (em R$ bilhões)
Já o período médio para pagamentos de dividendos e juros sobre capital próprio, do anúncio ao depósito do dinheiro aos investidores, foi o maior em sete anos de janeiro a julho de 2023 em relação ao mesmo período de 2022. O prazo médio de pagamento neste ano é de 72 dias, alta de 25% em comparação aos 54 dias, em média, do ano passado.
Prazo para pagamento de dividendos
O prazo médio é o maior em sete anos
Os setores que mais demoraram para depositar o dinheiro neste ano, chegando a mais de 100 dias, foram consumo não cíclico, saneamento e energia. As empresas de consumo não cíclico em geral não são boas distribuidoras de dividendos, porque são muito endividadas e as suas margens de lucro são baixas. Já as companhias de saneamento e energia são boas distribuidoras de dividendos, com previsibilidade de receita e necessidade menor de investimentos.
Setores com o prazo de pagamento maior
As companhias de consumo não cíclico demoram mais para pagar
Os dividendos são a fatia do lucro das companhias distribuída aos acionistas. Essa remuneração é uma renda extra mesmo quando as ações caem, é isenta de Imposto de Renda e está sendo o foco de cada vez mais brasileiros, interessados em multiplicar o patrimônio reinvestindo os dividendos.
O valor menor e o período maior prejudicam os investidores, que deixam de ganhar investindo os dividendos em ações ou renda fixa enquanto esperam o pagamento dessa remuneração. O valor parado se desvaloriza, enquanto a bolsa e os investimentos de renda fixa rendem.
Um acionista com R$ 2 mil em dividendos a ganhar em julho, depositados 110 dias após o anúncio, teria recebido R$ 2.412 se tivesse investido antes em algum ativo atrelado ao Ibovespa e R$ 2.079 se tivesse investido antes em um título de renda fixa que rendesse 100% do CDI, por exemplo.
O ambiente de altos juros, que aumenta o custo do endividamento, leva as companhias a segurarem o lucro em caixa, diminuírem a distribuição de dividendos e demorarem mais para pagar, afirma Wendell Finotti, fundador e presidente da plataforma Meu Dividendo, que antecipa o pagamento dessa remuneração. “As empresas escolhem manter os recursos no caixa o máximo possível para evitar empréstimos com juros altos”, diz.
Com a baixa de juros que começou em agosto, ele espera que a distribuição de dividendos aumente e o período de pagamento diminua a partir do ano que vem. “Sugiro paciência aos investidores com foco em dividendos. Ninguém vai ficar rico da noite para o dia e o processo é longo”, acrescenta.
Analistas e gestores de ações afirmam que o cenário não é preocupante como parece, avaliando as companhias com lupa, o começo de cortes da Selic e a expectativa de mudanças tributárias. Boa parte deles está com boas expectativas para a distribuição de dividendos daqui em diante e recomenda o investimento com esse foco para os brasileiros com alvo no longo prazo e dispostos a riscos.
Bernardo Viero, analista de ações da Suno Research, afirma que as companhias do setor elétrico estão segurando o lucro em caixa para chegar com maior poder nos leilões de transmissão, que estão acontecendo em número recorde neste ano. Contudo, ele destaca que as empresas do setor elétrico continuarão sendo grandes pagadoras de dividendos.
Além disso, o analista diz que as companhias em geral deverão distribuir maiores remunerações com a pressão menor dos juros altos. “Recomendo ser paciente e analisar os casos em que os dividendos estão menores pelo fator pontual das taxas de juros. Nas companhias endividadas para crescer e não para sobreviver, o cenário negativo de dividendos tende a ser passageiro”, afirma.
Rafael Cota Maciel, gestor de ações da Inter Asset, acha que as companhias podem estar retendo dinheiro em caixa no aguardo de decisões sobre a segunda etapa da reforma tributária, que pode taxar os dividendos e extinguir os juros sobre capital próprio. Essas alterações, atualmente em debate, levariam a mudanças na política de distribuição de dividendos das companhias. “Seria uma precaução para tomar uma melhor decisão, caso alguma dessas mudanças ocorra”, afirma.
Ele diz que caso aconteça a extinção dos juros sobre capital próprio, as companhias mais impactadas negativamente seriam os bancos e as empresas de bebidas e telecomunicações. Elas aproveitam os benefícios fiscais de distribuir juros sobre capital próprio e sofreriam perdas maiores.
Já caso aumente o barulho sobre dividendos tributados, poderia haver uma corrida das companhias para antecipar dividendos extraordinários antes da alteração. “Os investidores devem acompanhar esse cenário de perto, porque podem ser pagos muitos dividendos”, diz.
Ricardo Schweitzer, analista de ações e investidor profissional, afirma que uma antecipação da distribuição de juros sobre capital próprio pode já estar acontecendo, considerando que o volume total dessa remuneração aumentou neste ano. Ele também está no time dos otimistas com dividendos, mesmo com a possibilidade de taxação. Avalia que se houver tributação, a remuneração dos investidores diminuirá, mas o investimento com foco em dividendos continuará valendo a pena. “Os dividendos seguirão sendo uma opção de longo prazo que gera retorno muitíssimo grande”, diz.
Guilherme Tiglia, analista responsável pela carteira de dividendos da Nord Research, afirma que as companhias continuam distribuindo bons dividendos e que os acionistas que buscam essas remunerações acharão oportunidades sempre, em cenários melhores e piores. “O investidor com foco em dividendos não tem que fazer aportes para ganhar no curto prazo, e sim no longo prazo”, diz.
“Conheça as empresas e os setores com bom histórico de pagamento e não caia na tentação de investir nas companhias com os dividendos maiores do momento, porque não há garantia que ela pagará dividendos altos de novo”, acrescenta.
O analista da Nord ainda destaca que as boas pagadoras de dividendos não são as companhias mais sensíveis às reduções de juros, como as construtoras e varejistas, que estão sendo mais indicadas agora pelos analistas para surfar a onda da Selic. Entretanto, elas continuam recomendadas. “Quem está investindo com foco em dividendos vai se sentir de fora da festa agora, mas não faz mal. O foco deve ser no longo prazo”, afirma.