Analistas citam companhias com retorno em proventos de até 15%; veja a lista

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O ano de 2023 foi desafiador para as empresas brasileiras em relação a remuneração dos acionistas. Puxados por Petrobras (PETR3; PETR4) e Vale (VALE3), os proventos locais apresentaram uma redução de 31% de janeiro até o dia 5 de dezembro em comparação com o mesmo período do ano anterior, segundo levantamento da plataforma Meu Dividendo.

Contribuiu com a queda o cenário macroeconômico adverso, com juros elevados, que levou muitas empresas a segurarem o dinheiro em caixa por mais tempo. O prazo entre o anúncio de proventos e o efetivo pagamento aos acionistas aumentou. A média do ano em 2023 foi de 86 dias. Já nos anos anteriores o prazo médio de pagamento ficou em 63 dias em 2022 e em 77 dias em 2021. Até em relação à época da pandemia o prazo foi levemente inferior – à época, era de 84 dias.

Os analistas destacam que as taxas de juros elevadas contribuíram também com o aumento do endividamento e do custo de capital, deixando as empresas mais cautelosas.

Vale e Petrobras, no entanto, tiveram forte peso no dado geral de redução dos dividendos, já que representaram 41% do volume total de proventos pagos na Bolsa.

Luan Alves, analista-chefe da VG Research, destaca que ambas companhias vinham de lucros extraordinários em 2022, que recuaram neste ano. “É importante contextualizar que muitas vezes a queda dos proventos da Bolsa em 2023 esteve relacionada à ciclicidade de Petrobras e Vale e não à evolução dos dividendos das outras empresas”, explica.

Qual é o cenário para 2024?

Com taxas de juros menores, os analistas estão mais otimistas em relação às distribuições de dividendos para 2024.  Segundo Renato Reis, analista da DVInvest/Blue3 Investimentos, o alívio na geração de caixa das companhias por conta da queda da Selicvai aumentar os lucros e, consequentemente, os dividendos das empresas.

“Além disso, ainda podemos ter ciclos bastante positivos principalmente nas commodities, que caíram bastante de preço em 2023, podendo surfar um novo ciclo de alta em 2024”, reforça.

A expectativa é que diante da alta de commodities agrícolas, do petróleo e do minério de ferro, empresas como Petrobras e Vale, que costumam ser as maiores distribuidoras de dividendos da Bolsa, sejam beneficiadas e distribuam mais proventos, destaca Sergio Biz, analista focado em dividendos e sócio do GuiaInvest.

Por outro lado, o receio de mudanças tributárias nos juros sobre capital próprio (JCP) pode funcionar como um vento contrário para as distribuições, fazendo com que as companhias deem prioridade à alocação de capital em seus projetos ao invés de remunerar acionistas, avaliam os especialistas.

Em relação aos prazos médios de pagamento, o mercado espera um encurtamento a patamares como 2019, antes da pandemia. Segundo dados do Meu Dividendo, a distância entre o anúncio do provento e o pagamento naquela época era de em média 62 dias. Porém, os especialistas destacam que em caso de mudanças tributárias o efeito seria o oposto, com as organizações estendendo mais estes períodos.

Melhores setores para dividendos

Para quem busca receber bons dividendos em 2024, analistas citam os melhores setores para renda passiva. Para Alves, da VG Research, é possível encontrar boas oportunidades em energia elétrica, saneamento básico, bancos, seguros e petróleo. Ele destaca que mesmo com juros em tendência de queda, a Selic ainda deve permanecer próxima de 10%, fazendo com que as seguradoras tenham um lucro elevado e remunerem bem os seus acionistas.

Já Biz, do GuiaInvest, cita também companhias do segmento de mineração e de setores de commodities. Segundo o analista, outro setor que deve ter destaque e ser resiliente é o de telecomunicações.

Confira as melhores pagadoras de dividendos para 2024

O E-Investidor consultou cinco casas de análise e corretoras e apresenta a seguir as ações mais recomendadas pelos analistas para quem quer receber dividendos em 2024.

Vale no topo

Na liderança, estão Vale e BB Seguridade (BBSE3), com três recomendações cada.

Biz, do GuiaInvest, cita que a Vale começou a entregar resultados mais fortes a partir do terceiro trimestre de 2023 com aumentos de produção, que devem se traduzir em maiores vendas no final do ano. “Caso o preço do minério de ferro se mantenha em um patamar elevado, devemos ver uma forte geração de caixa e dividendos expressivos em 2024”, afirma o analista.

Segundo Biz, a Vale também tem apresentado uma dinâmica de custos mais controlados no terceiro trimestre que deve persistir nos próximos. O analista projeta um dividend yield (rendimento de dividendos) de 8,5% para VALE3 em 2024 e recomenda a compra dos papéis até o preço de R$ 75.

Para João Abdouni, analista da Levante, no patamar atual do preço do minério, próximo a US$ 130 a tonelada, a Vale consegue gerar muito caixa e entregar entre 8% e 10% de dividend yield, o que a posicionaria entre as líderes da Bolsa em 2024.

Já Gabriel Duarte, analista da Ticker Research, projeta dividendos de 7% para o próximo ano, por conta do baixo endividamento da companhia e diante da demanda da China por minério que deve puxar os resultados da Vale.

BB Seguridade divide liderança

Na BB Seguridade, as estimativas para dividendos em 2024 chegam a 10,60%. Duarte explica que a seguradora é muito exposta ao setor de agronegócio, que teve um desempenho forte em 2023 e tudo indica que deve continuar em 2024. O analista destaca também que o principal balcão de vendas da BB Seguridade é o Banco do Brasil, que tem ampla capilaridade.

Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos, comenta que a BB Seguridade atua em linhas de seguros que tendem a ser mais estáveis mesmo em cenários desafiadores. Ele sinaliza dois diferenciais que separam a companhia dos seus pares de mercado: o retorno sobre patrimônio líquido (ROE) muito elevado, dado os ganhos de sinergia que a empresa tem por distribuir seus produtos pelos canais do Banco do Brasil; e a taxa de dividendos historicamente uma das maiores da Bolsa.

Costa projeta um dividend yield de 10,60% para as ações BBSE3 em 2024. O preço-alvo da ação é R$ 39 reais. Já Duarte, da Ticker, espera um dividend yield de 10% em 2024. Alves, da VG, acredita que BB Seguridade tenha capacidade de entregar dividendos de 9% no próximo ano.

Outras queridinhas

Além de Vale e BB Seguridade, outras companhias que reuniram recomendações dos analistas foram Caixa Seguridade (CXSE3), Banco ABC (ABCB4) e Isa Cteep (TRPL4).

Na Caixa Seguridade, a expectativa dos analistas é de que a empresa se beneficie com investimentos do governo no mercado habitacional, em que a seguradora tem foco. Segundo Biz, do Guia Invest, a empresa está crescendo consistentemente nos resultados operacionais, mostrando o seu interesse em distribuir boa parte do seu lucro aos acionistas.

“A queda dos juros pode impactar negativamente o resultado financeiro, mas este deve ser compensado por ganhos de eficiência e bons resultados operacionais”, avalia Biz. O dividend yield projetado para CXSE3 em 2024 é de 9%. O analista recomenda comprar as ações até o preço de R$ 12,80.

A VG Research também tem recomendação de compra para Caixa Seguridade, com dividend yield estimado de 8% para 2024.

Em relação ao Banco ABC, Biz destaca que a instituição vem apresentando resultados sólidos há alguns trimestres, focada no segmento Middle – empresas com faturamento anual entre 30 e 300 milhões. “Esse crescimento deve continuar acontecendo no próximo ano”, pontua. O banco paga dois proventos por ano aos seus acionistas. Para Biz, o Banco ABC teria capacidade de entregar um dividend yield de 7,8% em 2024, com preço-teto de compra de R$ 21,50.

Para Costa, da Toro, o banco ABC mistura a possibilidade de receber proventos com uma tese de crescimento da ação. O analista calcula um retorno em dividendos de 7,80% para ABCB4 em 2024.

A transmissora de energia Isa Cteep ainda deve pagar dividendos interessantes em 2024. Na visão de Duarte, da Ticker, a companhia deve distribuir seu caixa robusto entre novos investimentos que já estão acontecendo e o pagamento de dividendos. Lembrando que a empresa tem como prática distribuir no mínimo 75% do lucro líquido regulatório na forma de provento, desde que sua alavancagem não supere três vezes a relação dívida líquida sobre lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (dívida líquida/Ebitda).

Duarte espera dividendos de 6,5% para TRPL4 em 2024.

Costa reforça que a Isa Cteep possui alta previsibilidade de fluxo de caixa e histórico recorrente de remuneração aos acionistas, o que deve perdurar no próximo ano. O dividend yield projetado é de 7,65%.

Confira as ações recomendadas pelos analistas para investir em 2024: